
Para ouvir o inexprimível você terá de calar as
palavras, porque apenas os iguais podem se ouvir, apenas
os iguais podem se relacionar.
Sentado ao lado de uma flor, não seja um homem,
seja uma flor. Sentado ao pé de uma árvore, não seja um
homem, seja uma árvore. Banhando-se num rio, não seja
um homem, seja um rio. E então milhares de sinais lhe
serão dados.
E não é uma comunicação - é uma comunhão. A natureza
fala, fala milhares de línguas, mas não uma linguagem.
Alguém fez uma visita a Picasso, um homem muito
erudito, um crítico; viu os quadros de Picasso e disse:
“Parecem bonitos, mas o que significam? Por exemplo,
este - o quadro estava bem diante dele - o que significa?”
Picasso sacudiu os ombros e disse: “Olhe para fora
da janela - o que significam as árvores? E o pássaro que
está cantando? E qual é o significado do sol nascente? E
se tudo isso existe sem significado, por que meus quadros
não poderiam existir sem nada significar?”
O significado é existencial. Olhe, observe, sinta,
penetre, mas não faça perguntas. Se você quer perguntar,
entre para uma universidade - você não pode entrar
no universo. Se quiser entrar no universo, não pergunte...
não há ninguém para lhe responder.
Conta-se que um Mestre Zen estava fazendo uma
pintura no palácio do Rei, e o Rei estava sempre perguntando:
Está pronta?”“.
E ele dizia: “Espere mais um pouco, espere mais um
pouco”.
Passaram-se anos e o Rei disse: “Está levando muito
tempo. E você não permite que eu entre na sala” -
porque ele se trancava na sala para pintar - e eu estou
envelhecendo. Minha curiosidade em saber o que você
está fazendo nessa sala aumenta cada vez mais. A pintura ainda não está pronta?”“.
O mestre disse: “A pintura está pronta há muito
tempo. Mas esse não é o ponto. Você não está pronto. Eu
o estou observando, e, ao menos que você esteja pronto,
a quem mais eu a mostrarei?”.
A existência está aí, sempre esperando, sempre
pronta. É uma paciência infinita, esperando - mas você
não está pronto.
Conta-se que o rei ficou pronto e o pintor disse:
“Muito bem, chegou à hora”.
Entraram na sala. Ninguém mais podia entrar. A
pintura era realmente maravilhosa. Era difícil dizer que
era uma pintura - parecia real. Ele pintara montanhas,
vales que pareciam tridimensionais, como se existissem.
E ao pé das montanhas havia um pequeno caminho que
levava a algum lugar interior. Agora vem a parte mais
difícil da história.
O rei perguntou: “Aonde leva essa estrada?”.
O pintor disse: “Eu mesmo não viajei por essa estrada,
mas espere, eu vou ver”.E entrou pelo caminho,
desapareceu por entre as montanhas e nunca mais voltou.
É isso que significa um mistério. Diz muitas coisas
sem dizer nada. Se você entrar na natureza para
ver onde ela leva, não fique do lado de fora fazendo
perguntas, porque nada pode ser feito - você precisa
entrar nela. Se entrar, nunca voltará, porque no próprio
movimento de entrada em existência... Você estará
perdendo o seu ego, estará desaparendo. Você alcançará
seu objetivo, mas nunca voltará para contar a história.
O pintor jamais voltou. Ninguém jamais volta. Ninguém
pode voltar, porque quanto mais existencial você
se torna, mais se perde.
A existência abre milhares de portas para você,
mas você fica de fora e quer saber coisas a respeito
dela pelo lado de fora. Não há nada do lado de fora na
natureza - tudo está dentro. O todo é interior. E a
mente está tentando o impossível - está tentando ficar
do lado de fora, para observar, ver o que significa.
Não, você tem de participar. Tem de entrar dentro
dela, se unificar, e dispersar-se como uma nuvem a
paradeiros desconhecidos.
Texto sem autoria definido coletado na Internet
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