
O Arcano 4
Esta é a imagem de um homem forte com todos os atributos de um regente. Senta-se sobre um cubo como se fosse um trono. Ele rege o mundo da matéria. Os romanos o denominam Júpiter. O fato de estar sentado sobre o cubo representa o sinal de Júpiter.
O rei usa um elmo amarelo enfeitado de vermelho, cuja forma é de seis pontas no alto como se fosse uma coroa. Essas pontas indicam uma estrela hexagonal, formada por dois triângulos entrelaçados. Quando estes são projetados para a terceira dimensão, formam-se dois tetraedros entrelaçados, os quais estão ocultos dentro do cubo.
A cor amarela do elmo mostra que o rei manifesta seus elevados poderes espirituais e sua sabedoria nos pensamentos, na fala e na escrita. Os contornos vermelhos do elmo, por sua vez, indicam espiritualidade e sabedoria. A cor escura do cabelo e da barba é simbólica e significa a preocupação com o mundo material. Na mitologia romana, trata-se de Júpiter, na grega é Zeus, o deus do conhecimento e o regente celestial da Terra.
O seu ser interior está vestido de vermelho. Contudo, só é possível ver essa roupa nas pernas, sobre os joelhos e nos braços. O resto da roupa íntima está coberto com outras peças de vestuário. Sobre o peito e nos ombros, o rei tem uma couraça azul-clara. Na parte da frente, sobre o peito, vê-se à direita o Sol e à esquerda a Lua. A couraça indica o fato de ele não ser influenciável e mostra a sua força de resistência contra os inimigos e os ataques do exterior. O Sol e a Lua indicam que ele une em si mesmo essas duas grandes forças, a positivo-masculina e a negativo-feminina, que dispõe das duas energias e que trabalha com elas no universo. Ao redor do pescoço ele tem uma grossa corrente dourada que simboliza o seu grande bom senso.
A couraça está ornamentada com uma orla em padrão geométrico cuja borda é amarela e em parte cobre o uniforme azul e as mangas azuis. Isso indica espiritualidade, boa vontade e gentileza. Os pés estão calçados com meias azuis, o que significa que os seus passos sempre são conduzidos pelo amor e pela humanidade. Na mão direita ele segura um poderoso cetro que termina em três grandes folhas em forma de taça, uma flor-de-lis. O rei segura o cetro na mão direita, o que demonstra que ele trabalha com as forças masculino-positivas.
Na mão esquerda o rei segura um globo imperial verde. Este significa que ele tem poder sobre o mundo terreno. Esse poder, no entanto, não é a violência rude, mas a força irresistível do amor universal. Por essa razão, o globo imperial na sua mão é tão grande e tem a cor verde.
O rei está sentado sobre um grande cubo amarelo, no qual se vê o desenho de uma águia marrom. O cubo é a mais simples das formas de cristalização da matéria, a forma cristalizada dos sais. O fato de o rei estar sentado sobre um cubo significa que apesar de ele se encontrar acima da matéria graças à sua espiritualidade, ainda assim precisa dela e do mundo material como base estável em que fundamenta sua atividade. Ele domina a matéria e também a usa para transformar forças materiais em forças espirituais. Para revelar este fato, o rei assume tal postura, de modo que suas pernas formem uma cruz, o símbolo da matéria.
O cubo representa uma matéria muito delicada através da qual o rei demonstra a sua sabedoria. Essa matéria é o cérebro humano. É essa a razão de o cubo ser amarelo. Trata-se de matéria inteligente. Os homens revelam as verdades superiores, seus conhecimentos e as idéias divinas do rei do céu através do cérebro. Sem isso, o rei não poderia expressar sua sabedoria nas idéias, na fala e na escrita, nem transmiti-las. A águia escura é o símbolo da matéria, que, no entanto, não mais revela os instintos inferiores e rasteja pelo solo como um escorpião, mas que serve à revelação de pensamentos elevados e do mundo espiritual e voa como águia, bem alto no céu. A águia vira a cabeça para a direita, portanto para o lado masculino-positivo, simbolizando com isso que a força com a qual o rei atua sempre é a masculino-positivo-doadora.
O significado desse cubo pode ser melhor entendido com a referência à Caaba, o ponto central do culto religioso dos maometanos, em Meca. A Caaba é uma construção notável em forma de cubo que, segundo a tradição, já foi edificada assim ainda antes de Abraão. Em todo o mundo, os maometanos viram-se na direção da Caaba ao rezarem. E cada maometano, tão logo surja uma oportunidade, faz uma romaria para a Caaba, ao menos uma vez durante a sua vida. No interior da Caaba há doze lâmpadas de prata no meio de três colunas, entre as quais fica a décima terceira. As três colunas simbolizam a trindade divina e as doze lâmpadas, os doze signos zodiacais com o Sol na posição central. A Caaba não tem janelas; apenas uma única porta que está a sete pés de altura e aonde se consegue chegar só com a ajuda de uma escada de sete degraus. Os maometanos chamam a Caaba de "a casa de Deus", o que nada mais é do que o próprio homem. O simbolismo da Caaba está tão claro que quase não é preciso explicá-lo: a Caaba é o cubo, a matéria, o corpo do homem, no qual habita o Eu divino, Deus. As três colunas representam a trindade divina, que reanima o corpo com as forças divinas do Logos.
Cristo disse: "O reino dos céus está em vós." (Lucas, 17:21). O mesmo símbolo, o cubo que contém o princípio divino mostrado aqui como o cordeiro que se oferece em sacrifício, aparece no Apocalipse. João descreve em sua visão: "E veio a mim um dos sete anjos do Senhor... e falou comigo dizendo: 'Aproxime-se que lhe mostrarei a noiva, a esposa do Cordeiro. A consciência do homem que busca a unidade com o princípio divino.' E me levou em espírito até uma grande e alta montanha, mostrando-me a grande cidade, a cidade sagrada de Jerusalém, manifestação do céu de Deus. E o que falava comigo tinha uma vara de ouro, com a qual queria medir a cidade, suas torres e muros. E a cidade era quadrada, a largura, o comprimento e a altura da cidade são idênticos. (Portanto, um cubo!). E a cidade era toda de ouro, e as ruas eram de ouro, polido como vidro. E não vi templos na cidade; pois o senhor, o Deus todo-poderoso, é seu templo e seu Cordeiro. A cidade não precisa nem de sol nem de lua, para que haja luz: a majestade de Deus a ilumina, e o seu brilho é o Cordeiro." (Apoc. 21:9-23).
Na frente do rei, encontra-se a mesma flor que já foi vista atrás do mago, quando ainda em botão. No caso do mago, a flor significava que o homem ainda não estava consciente de que grande parte do seu ser ainda está por trás do seu consciente, ainda está no inconsciente. Aqui a flor já se encontra diante do rei do céu e começa a se abrir. Portanto, a flor não é mais um botão.
Neste nível, o homem já está mais consciente do que no nível do "Mago". Já domina o próprio corpo, controla a própria forma material. Até certo ponto, já tem autocontrole. Usa o corpo como fonte de energia e transforma as forças físicas em forças espirituais, acelerando assim o seu progresso no longo caminho que leva ao grande objetivo.
Agora a sua alma não é mais um botão; desdobra-se gradativamente e irradia a luz divina, o amor. Reconhece que o seu nível espiritual não depende tanto do quanto sabe, e sim muito mais da quantidade de amor que manifesta ter. O que ele aprendeu e alcançou intelectualmente precisa ser concretizado. O homem não deve guardar para si sua experiência e conhecimento; precisa transmiti-los aos que ainda não foram iniciados e que vêm depois dele. Já tem autocontrole e controla os desejos físicos.
Por isso usa o poder assim adquirido para ajudar a si e também aos seus semelhantes. Vê o grande objetivo e devota toda a sua vida à tarefa de tornar-se mais espiritualizado, ao mesmo tempo em que induz os outros a uma maior espiritualidade. Ele leu e aprendeu como falar sobre as verdades divinas. Ao mesmo tempo, no entanto, adquiriu experiência individual e pode transmitir seus tesouros para outras pessoas. Mais e mais pessoas vêm procurá-lo pedindo conselhos e ajuda, e ele tenta aliviar os sofrimentos humanos. Ajuda quando é possível e manifesta compaixão e amor. O amor universal se desenvolve no seu coração da mesma forma que a flor abre suas pétalas.
À figura do rei atribui-se o número 4 e a letra Daleth.
Através do mundo e em cada religião, o quadrado e a cruz são os símbolos da matéria. Nas duas hastes da cruz, tempo e espaço, o espírito do mundo, Logos, Cristo, é crucificado. O presente absoluto está no ponto de intersecção das duas hastes da cruz. É onde se unem o tempo e o espaço. Para os espíritos encarnados, este ponto, o absoluto presente, é a única possibilidade de atingir a Redenção, a Libertação enquanto no corpo.
Na visão de Ezequiel também se vê o simbolismo do Arcano 4 nos quatro grandes sinais do Zodíaco: leão, touro, anjo e águia.
A letra Daleth é a representação do princípio animador e ativo do universo. Daleth corresponde à quarta sephirah, Hesed, que significa amor e gentileza.
Interpretação Oculta
Os ocultistas classificam este Arcano com o primoroso nome de o Imperador.
O número quatro traz sempre a idéia de realização. Na Lâmina Quatro, se vê o Imperador (Grande Arquiteto do Universo) sentado em um trono expresso pela Pedra Cúbica, a famosa Pedra dos Maçons.
Fazendo uma breve recapitulação dos Arcanos anteriores, verifica-se que: o Arcano 1 é o Criador Espiritual, a Vontade, o Princípio Ativo; o Arcano 2 é o Princípio Plasmador, ativador da Vontade, a Sabedoria Divina; o Arcano 3 é a Geração, a Atividade, a Regência da forma, e o Arcano 4 é a Realização, o Construtor Físico, o Poder Governante.
Este Arcano também faz referência às quatro virtudes do hermetismo: ousar, saber, calar e querer.
A Igreja de Melquisedec
O Arcano 4 tem relação direta com o Supremo Governante do Mundo: o Rei Melquisedec (ou Melk-Tsedeq) e a sua igreja. Há uma antiga tradição que afirma a existência, no mundo, de uma "Igreja Santa", que torna a ligar (religare) o homem a Deus, sem necessidade de sacerdócio nem outro qualquer intermediário. Todo ser iluminado, diretamente ou por iniciação, desde que esteja de posse de certos Mistérios, faz parte do Culto, que tem o velado nome de Igreja de Melquisedec. Tal culto sempre existiu, por ser o da mais preciosa de todas as religiões: a da Fraternidade Universal da Humanidade.
A sua origem procede dos meados da Terceira Raça Mãe (Lemuriana), pouco importa seu nome naquela época, se com o decorrer dos tempos, recebe o de Sudha-Dharma-Mandalam, na antiga Aryavartha (Índia).
Por isso que, tal Fraternidade ou "Culto Universal" - que é o do Amor, da Verdade e da Justiça - se compõe de Sete Linhas, cada uma delas com o respectivo Raio.
O Sacerdócio de Melquisedec (o pão e o vinho) deve ser interpretado como uma "prefiguração da Eucaristia". E o próprio sacerdócio cristão se identifica, em princípio, ao de Melquisedec, segundo a aplicação das seguintes palavras dos Psalmos feitas ao Cristo: "Tu es sacerdos in aeternum secundum ordinem Melquisedech".
Jeoshua Ben Pandira (Jesus) distribuiu entre seus discípulos pão e vinho, o que deu origem ao termo "Ceia do Senhor", pois como um Iluminado, Adepto ou Homem Perfeito, conhecia todos os ensinamentos da referida Igreja de Melquisedec.
Essa mesma Igreja até hoje ensina aos homens que para ela se acham atraídos, a se religarem à sua origem. Trata-se da interpretação da Parábola do Filho Pródigo "que volta à casa paterna", fenômeno comparável à Teofania dos Neo-Platônicos e o verdadeiro sentido do termo Teosofia, como "Sabedoria Divina", dos Deuses, dos Mahatmâs, dos Gênios, dos Jinas.
O Arcano 4 não poderia ser representado de maneira mais adequada na esfera celeste senão por Hércules, revestido da pele do Leão de Némea, armado com sua funda e munido do ramo que traz as maçãs do Jardim das Hespérides. Esses frutos são os do Saber Iniciático, são conquistados com muita luta e recompensam o herói que realiza os doze trabalhos, tornando-o Adepto devotado à Grande Obra.
Interpretações Adivinhatórias
Chesed - graça, misericórdia, perdão, ou Gedulah - grandeza, magnificência; designação do quarto ramo da árvore dos Sephiroth ou números cabalísticos; poder que dá e expande a Vida, bondade criadora chamando os seres à existência, princípio animador, luz criadora espalhada entre as criaturas e condensada no centro de cada individualidade; Enxofre dos Alquimistas, fogo, vital aprisionado no germe, verbo realizador encarnado, fogo, agente, esposo místico e filho da substância anímica (Imperatriz).
Energia, poder, direito, vontade, fixação, concentração, certeza absoluta por dedução matemática, constância, firmeza, rigor, exatidão, positivismo.
Na polaridade oposta: espírito dominador, influenciando outrem a se deixar influenciar; calculista, fiando-se apenas no raciocínio e na observação positiva; caráter imutável em suas resoluções, teimosia; falta de ideal ou de intuição; protetor poderoso ou adversário temível; tirano, déspota sofrendo por choque de retorno à influência dos fracos; masculinidade brutal indiretamente submetida à doçura feminina.
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