
O Arcano 3
Vê-se na figura uma mulher jovem que não usa véu. A bela face revela francamente a sua natureza. Ela encara, olha de frente para os olhos de quem a vê, nada quer ocultar.
Traz uma coroa com três pontas na cabeça. Isso significa que ela reina sobre os três aspectos da vida, o nascimento, a vida e a morte. Contudo, também significa que é rainha do espaço, das três dimensões. Ela reina sobre todo o universo. É a rainha do céu, é o aspecto feminino procriador de Deus: a Natureza.
Ela está sentada completamente imóvel em seu trono, assim como suas leis são inflexíveis e imutáveis. Traz em si mesma o grande segredo, o mistério pelo qual o espírito se une à matéria e através do qual o divino se torna humano. Este mistério é a procriação. No entanto, ela mesma é a grande virgem casta, que gera miríades de criaturas vivas sem ter sido tocada por um ser do sexo masculino. Os dois mundos que na Grande Sacerdotisa ainda estavam separados, o aquém e o além, unem-se na rainha do céu. Mas ela dispõe do mundo material e espiritual, uma vez que tem o poder de mantê-los juntos ou de separá-los. Depende dela e de suas leis se um espírito encarna e nasce neste mundo, ou se um espírito já encarnado se desprende do mundo material e o seu corpo morre.
Sua cabeça está emoldurada por um círculo branco, que mostra a pureza imaculada, que ela irradia. Nesse círculo branco vêem-se doze estrelas, das quais três estão invisíveis atrás da cabeça da rainha do céu. As doze estrelas são o zodíaco, respectivamente os doze âmbitos celestes, com o que fica simbolizado o seu domínio no universo.
Ela tem duas asas azul-claras. Quando as desdobra, ela dispõe da capacidade de flutuar e de voar no espaço infinito.
Seu vestido bem justo no corpo é vermelho, portanto no âmago do seu ser ela é inteiramente espiritual, positiva. A bainha amarela mostra sua grande inteligência, que ela revela por meio dos cérebros humanos.
Sobre o colo ela traz uma capa azul-celeste jogada sobre o braço direito e tão comprida que as duas pernas ficam cobertas até o chão. A capa e sua luminosa cor azul simbolizam a infinita abóbada celeste que é seu reino; mas também representa sua imaculada pureza. A cor verde da parte de dentro da capa azul significa seu bem-querer e sua simpatia por tudo o que vive, por todos os seus filhos.
A vara de condão do mago, em sua mão, tornou-se um grande cetro, o qual tem na parte superior o símbolo da Terra e no inferior um globo imperial. Este símbolo consta de uma esfera que tem uma cruz na parte de cima. Significa que aqui na Terra predomina a lei da matéria e que o espírito precisa reconhecer essa lei. O cetro mostra a poderosa e grande força da natureza sobre os três mundos, sobre o céu, a Terra e o inferno. As leis da natureza são invencíveis.
A rainha segura o cetro na mão esquerda; isso significa que ela reina com força irresistível o eterno-feminino e a mãe. Na mão tem um escudo sobre o qual está representado o grande símbolo dos alquimistas, a águia branca contra um fundo vermelho. A águia representa o símbolo da pureza e da castidade da rainha do céu, a força sexual sublimada, utilizada por ela mesma apenas em sua forma espiritual, como força criadora. A águia vira a cabeça para a esquerda, isto por sua vez representa a força negativo-feminina da rainha. O céu vermelho em segundo plano indica o poder do feminino que representa as forças positivas do espírito.
O pé direito da rainha não está visível. O esquerdo repousa sobre um crescente lunar virado para baixo. O crescente lunar virado para cima significa a suscetibilidade e a capacidade receptiva no que se refere às forças espirituais. Virado para baixo indica a suscetibilidade e a capacidade de recepção para a força criadora do masculino. A rainha do céu não se deixa fecundar pela força criadora material terrena, ela é e permanece casta, mas em seu reino, na natureza, permite que os sexos separados em sua forma material se tornem outra vez um. Ela deixa que o feminino, o receptivo, seja fecundado e saciado pelo masculino-positivo doador.
Desta forma, a rainha do céu consegue que o divino se torne humano, que o espírito se una à carne, que os dois mundos, o espiritual e o material, se tornem um novo ser vivo. A rainha do céu, a natureza, possibilita então que o espírito se encarne no mundo material.
Sobre o trono, ao lado da rainha floresce um lírio branco. Este também simboliza a pureza, a castidade; simboliza, sobretudo, a saúde da rainha do céu, da natureza. A natureza se esforça continuamente por manter seus filhos, miríades de seres vivos, saudáveis, dando-lhes seus impulsos instintivos que fazem com que busquem fazer sempre o que é melhor por sua saúde. Mas, se ainda assim ficarem doentes, ela os ajuda a recuperar a saúde. O lírio traz em si uma intensa energia de cura. Por direito, é o símbolo da pureza e da saúde.
Esta bela imagem feminina pode ser encontrada em todas as grandes religiões como o aspecto feminino de Deus. Ela é a natureza, a grande Mãe, que concebe miríades de seres vivos e dispõe do poder sobre a vida e a morte. Povos diferentes lhe dão nomes diversos. Os egípcios antigos denominavam-na de Ísis; na religião hindu é conhecida como a venerável grande mãe Kali, enquanto na religião cristã ela é a Madona. No Apocalipse de João ela é assim descrita: "E apareceu um grande sinal no céu; uma mulher vestida como o sol, com a lua sob seus pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça". (Apocal. 12:1).
O homem que se encontra neste nível do tarô aprende a conhecer a grande rainha celestial, a Natureza. Ele é um "buscador" e começa no momento a pesquisar os seus segredos. Não tenta mais afrontar a Natureza comportando-se de modo insensato, mas harmoniza-se com ela, passando a viver com ela e não em oposição às suas leis. Este homem vive de acordo com a imposição do íntimo: a saúde é um dever! Tenta fazer com que as forças da natureza atuem nele, tornando o seu corpo saudável, e deseja mantê-lo assim. Começa a experimentar vários sistemas de cura e de nutrição; não come mais carne, além de não beber nada que seja artificialmente produzido, pois essas bebidas estimulam seus desejos inferiores e lhe causam a excitação dos sentidos. Portanto, começa a conhecer e atender os desejos interiores da natureza, que até então pensava serem seus instintos animais aos quais não prestara atenção. Reconcilia-se desta forma com a natureza contra a qual cometeu muitos pecados. Reconhece a natureza como a força que rege o mundo visível e o seu corpo. O resultado desses esforços, entretanto, é o seu reconhecimento do fato de que todo fenômeno físico tem uma causa emocional e que cada doença pode então ser atribuída a uma perturbação emocional.
Portanto, ele descobre que se observar a sua alma, e obter a harmonia interior e a saúde espiritual, seu corpo também se tornará saudável. Essa verdade o leva à nova descoberta de que existe algo que transcende o domínio da Natureza. Descobre algo ainda melhor, descobre que essa coisa pode reger a Natureza. Trata-se do seu espírito, do seu próprio Eu superior. Descobre sua capacidade de se tornar dono da Natureza, de controlar e de trabalhar em conjunto com as forças da Natureza, no caso de o seu Eu tornar-se o mestre da sua alma e do seu corpo. Mas isso só acontece depois que reconhece as leis da Natureza! Pois se as reconhece, será capaz de deixar essas magníficas forças atuarem não só em si mesmo, mas também no mundo exterior.
Dessa forma, o "buscador" tenta reconhecer as leis da Natureza, porém atua com o intuito de deixá-las agir dentro dele segundo sua própria vontade. Remove todos os obstáculos que seu anterior modo tolo de viver colocou no caminho da Natureza. Inicia a prática do autocontrole e da concentração mental.
É assim que une em si mesmo os dois mundos, este e o outro, ao passo que enquanto ainda estava no estágio da "Grande Sacerdotisa", queria conhecê-los separadamente. Ele permite que seu espírito, seu Eu, que sempre foi e que sempre permanecerá imaterial, do outro mundo, controle o seu ser físico; o homem deixa de ser escravo dos seus desejos e tenta usar seu corpo como um instrumento maravilhoso. Mas não deixa de cuidar do corpo por esse motivo: na verdade, cuida dele com muito carinho, pois de outro modo seu espírito não se poderia manifestar completa e perfeitamente por meio dele. Não se esquece de que seu Eu também ajudou a criar seu corpo, pois compreende que o corpo é a sua imagem, que seu corpo é ele mesmo, mesmo que seja apenas uma remota manifestação do seu próprio espírito. Esse homem faz um grande progresso, visto que percebe que há apenas um universo abrangente e ilimitado, que toda a Criação é uma única unidade indivisível.
A carta da Rainha tem o número 3 e a sua letra é Ghimel. O número 3 representa a harmonia perfeita e o equilíbrio. Também indica a Santíssima Trindade e os três aspectos de Deus, o criador, o preservador e o destruidor. Todos os fatores têm três aspectos. Trata-se das três dimensões do espaço: comprimento, altura e largura; os três aspectos do tempo: passado, presente e futuro; os três aspectos da vida terrena: nascimento, vida e morte; e os três mundos sob regência da rainha do céu: céu, Terra e inferno. Esses três aspectos são manifestações de uma única unidade. No nível da "Rainha do Céu", o homem conscientemente une esses três aspectos num ser, nele mesmo. Ele vive nas três dimensões, no espaço, no tempo e está consciente de que seu corpo nasceu e que morrerá, assim manifesta os três aspectos da vida, embora compreenda que todos esses aspectos se referem apenas ao seu ente mortal. O verdadeiro Eu, o seu ser divino não conhece todos esses aspectos. Não conhece nem tempo nem espaço, vida ou morte, passado ou futuro, pois conhece apenas a eternidade e a vida eterna, só conhece o presente absoluto, o "eterno agora". Nesse momento o homem entende também que céu, Terra e inferno são três estados de consciência e que, conforme o nível com o qual se identificar será feliz ou infeliz. Se se identificar consigo mesmo, com o seu espírito e buscar os prazeres espirituais, será feliz e, portanto, estará no céu. Durante a sua vida na Terra ele experimentou alegrias e tristezas, mas estas são efêmeras. E caso se identifique com seus impulsos e se torne um escravo do seu corpo, perder-se-á, desesperar-se-á e quando isso acontecer, terá mergulhado no inferno.
Neste nível de consciência o homem já entendeu a Natureza, a rainha, e tenta aplicar na prática, tenta concretizar as verdades que aprendeu e que entende muito bem na teoria.
A letra Ghimel significa a garganta humana onde se formam todas as palavras que nasceram do cérebro. Esta letra simboliza a manifestação material das idéias do intelecto. Na Cabala é a terceira sephirah e corresponde à Binah, a inteligência prática.
Interpretação Oculta
Deus em Aspecto Feminino. A Imperatriz é uma soberana, resplandecente de claridade, simbolizando a Inteligência Criadora. Esta soberana expressa o princípio ou as leis que regem as formas, as imagens, as idéias.
Sobre o número 3, disse Pitágoras: "O número três reina por toda parte e a Mônada é o seu princípio". Com efeito, tudo tem sua origem na grande Unidade. Esta, transformando-se, vai formando a multiplicidade das coisas.
Este Arcano é um símbolo de geração, em todos os planos da Criação. É representado na Mitologia pela Vênus Urânia. É a mulher como princípio animador dos seres. Traduz a idéia de geração e desenvolvimento de novas idéias, de novas formas e, por conseguinte, com a reencarnação.
Interpretações Adivinhatórias
Binah - Inteligência - Compreensão - Concepção abstrata geradora de idéias e das formas - Idealidade suprema - Pensamento concebido, mas não expresso ainda - Domínio do conhecível e inteligível - Discernimento - Reflexão, estudo, observação, ciência indutiva - Instrução - Saber - Erudição.
Afabilidade, graça, encanto, poder de alma, império exercido pela doçura, influência civilizadora. Polidez, generosidade. Abundância, riqueza, fecundidade.
Na polaridade oposta: aparato, vaidade, frivolidade, luxo, prodigalidade, sedução, pose, afetação, exibição de noções superficiais.
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